Aqui vai o desabafo de uma cientista cansada.
Convencer um bailarino de que ele precisa preparar o seu corpo para dançar é quase igual convencer um motorista de que ele precisa usar o cinto de segurança. Todo mundo sabe que precisa pra ficar saudável/seguro, mas ninguém quer fazer/usar.
Essa necessidade imediatista pelo resultado somada a lei da sobrevivência do menor esforço é um tiro pela culatra, porque a curto prazo o bailarino que não faz preparação física pode não se machucar, mas a longo prazo o pensamento “aaah se eu tivesse me protegido” vai surgir eventualmente.
Muitas vezes a negação à preparação física se dá ao fato de que o processo é desgastante (sim, é, de certa forma, uma carga adicional de exercícios), outras vezes se dá pela falta de conhecimento (não porque o conhecimento não esteja sendo produzido, mas sim porque muitos ainda não quiseram se abrir para ele).
Meu papel como cientista passa longe de apenas produzir o conhecimento. Me sinto na obrigação de divulgá-lo porque sei a diferença que ele pode fazer na carreira de um bailarino. Mas o que adianta os cientistas produzirem e divulgarem, se o bailarino não está interessado? Se é mais cômodo continuar do jeito que está… Uma vez que mudar é difícil, e o novo causa resistência e estranhamento.
Eu poderia apenas pesquisar como profissão e publicar o meu trabalho em artigos científicos de linguajar complicado e de pouco acesso.
Mas fico tentando mastigar o conhecimento para pessoas que não querem engolir!
Já usei todos os meus argumentos e comprovações científicas para destacar a importância e a necessidade da preparação física para os bailarinos (vide posts anteriores), cansei de fazê-lo de graça ou por um preço irrisório porque coloco tanto amor nesse trabalho que quero apenas distribuí-lo. Frustrações me fizeram ver a realidade e enxergar mais racionalmente.
Muitas vezes tenho vontade de desistir de tentar preencher essa lacuna gigantesca entre a ciência da dança e a prática da dança, mas não desisto porque sei que tudo o que é novo é desafiador e tudo o que é desafiador é difícil!
Longe de mim me comparar a Einstein, mas perto de mim me inspirar nele. Quando primeiro propôs sua teoria da luz e a conexão entre o espaço e o tempo ouviu que seu trabalho era “RADICAL” e suas suposições mais “ARTÍSTICAS DO QUE FÍSICAS”!
Posso ouvir ainda por muito tempo que a preparação física é desnecessária ou uma perda de tempo dentro da aula de ballet, porque quando esse pensamento não existir mais, lembrarão (mesmo que vagamente) da minha luta (e de todos que estão comigo) nessa batalha.
Obrigada àqueles que acreditam no trabalho e me motivam a continuar. Estarei sempre aberta aos que querem aprender e buscar conhecimento comigo (porque estarei sempre tentando crescer) mas não vou mais abrir os braços pra quem não quiser me abraçar.